Em causa está a decisão do executivo açoriano de externalizar o serviço, apesar de não existir atualmente nos Açores qualquer clínica privada que realize hemodiálise, alertou o deputado António Lima, após uma reunião com a Associação Portuguesa de Insuficientes Renais (APIR).
“Ou o governo está a colocar em risco os doentes ao encerrar o serviço sem a garantia de que alguém o vai prestar no privado, ou então já tem o negócio fechado com alguma empresa”, afirmou o parlamentar bloquista.
O serviço de hemodiálise do HDES tem há vários anos necessidade de obras de ampliação e remodelação, de modo a aumentar a capacidade e garantir melhores condições aos doentes. A intervenção estava prevista desde 2023, após proposta do Bloco de Esquerda, mas desapareceu da proposta de Plano para 2026 entregue pelo governo regional na Assembleia Legislativa.
Na semana passada, a secretária regional da Saúde atribuiu a decisão às empresas responsáveis pelos planos funcionais de reorganização do hospital, que previam a externalização do serviço. Contudo, António Lima contrapõe que “se os planos funcionais preveem essa externalização é porque alguém o pediu”, salientando que “as empresas não têm poder para decidir que serviços o hospital deve manter ou eliminar”.
O deputado acusa o executivo de seguir “um caminho de fragmentação e privatização do Serviço Regional de Saúde”, lembrando que o governo prometeu “um novo hospital universitário, mais capacitado, e não um hospital para privatizar aos bocados”.
António Lima considera que “não há qualquer racionalidade nesta decisão”, classificando-a como “uma escolha ideológica que visa transferir para o setor privado a prestação de cuidados de saúde, garantindo lucros através do Orçamento da Região”.
O Bloco alerta ainda para possíveis dificuldades de recursos humanos, uma vez que o hospital terá de manter uma unidade de hemodiálise para casos agudos, enquanto os profissionais poderão ser recrutados pela clínica privada.
A APIR partilha das preocupações, sublinhando que a existência do serviço no hospital garante maior segurança aos doentes, pela proximidade com o serviço de urgência e outras especialidades médicas.
O Bloco de Esquerda vai propor a audição da secretária regional da Saúde, da diretora do serviço de nefrologia do HDES, das duas empresas responsáveis pelos planos funcionais e da APIR, para esclarecer os motivos e os contornos da intenção de privatizar o serviço.
MTop | Foto: BE-A
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